POR RACHEL CECÍLIA DE OLIVEIRA
No dia 25 de janeiro de 2019 aconteceu o maior “acidente” de trabalho do Brasil, o rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão controlada pela mineradora Vale S.A., na cidade de Brumadinho, Minas Gerais, causando a morte de pelo menos 270 pessoas e o derramamento de mais de 10 milhões de metros cúbicos de rejeitos, que deixaram um rastro de destruição ambiental. Em 2021, pouco mais de dois anos depois, Bárbara Lissa e Maria Vaz fotografaram as ruínas do desastre, aquilo que ainda resta, na tentativa de torná-lo imaginável.
A questão sobre “o que resta” exigiu buscar as marcas visíveis e invisíveis de uma avalanche que arrastou coisas, animais, edificações e seres humanos por quilômetros, e que passa por um rápido processo de encobrimento dos cerca de 2,9 milhões de metros quadrados de lama, principalmente por meio do uso de plantas e do isolamento de regiões. Quando o tempo dura uma tonelada mostra a contradição entre a necessidade da movimentação contínua do minério para manutenção da produção e um pano de fundo em que os restos lembram que o lugar não é mais o mesmo. O modo de construção das imagens da exposição sobrepõe camadas e cria sequências enfatizando esse contraste e o esquecimento que parece se materializar no local. Essa contradição também é explorada trazendo à tona duas diferentes temporalidades, o tempo quase parado dos restos do desastre e o tempo da empresa, presente a qualquer hora do dia ou da noite por meio do ruído do atrito das rodas dos vagões com o trilho do trem e de seu apito. O contraste incomoda, transforma a paisagem que espera por reparações, ao lembrar que não há tempo a perder, pois a atividade minerária é sempre mais importante e continua em ritmo acelerado, não importa o que aconteça.
O trabalho também investigou essa mudança na paisagem por meio da presença dos componentes químicos que ainda contaminam o local, dos metais pesados presentes no rio Paraopeba e da fina poeira tóxica de minério que paira no ar. Com intuito de incorporar materialmente o ocorrido, as fotografias foram reveladas agregando a poeira do minério e a água local – que permanece contaminada pela lama – aos químicos reveladores, imprimindo a própria paisagem nas fotografias. O trabalho buscou o que havia (e ainda há) para ser visto e sentido ali, os vestígios que teimam em aparecer, a despeito dos esforços para o seu apagamento. O que faz desta exposição um convite para imaginar o inimaginável e transformar esses restos em memória coletiva do que não pode ser esquecido.
Bárbara Lissa e Maria Vaz trabalham em dupla desde 2017, com o duo PAISAGENS MÓVEIS. Ambas possuem mestrado em Artes pela UFMG e trajetória nas Letras (UFMG) e nas Artes Visuais (Guignard/UEMG). Tratam da relação entre a memória e esquecimento, a partir das ficções poéticas, dentro do universo pessoal e coletivo, tendo grande parte de seus trabalhos tratando de questões ambientais. Desenvolvem seus projetos por meio da fotografia, através de experimentações entre imagem e palavra, analógico e digital e apropriação de imagens de arquivo. Em 2021 publicaram o fotolivro “Três Momentos de um Rio”, com apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte e, no mesmo ano, foram selecionadas pelo Prêmio Pierre Verger, em Salvador. Em 2022 foram convidadas para a exposição coletiva Cosmopolíticas (com itinerância em Tiradentes – Festival Foto em Pauta e Belo Horizonte – Fundação Clóvis Salgado) e selecionadas para o Fotograma Livre – Fest Foto, em Porto Alegre. São membras da plataforma Mulheres Luz e atuam como estagiárias editoriais da plataforma ARCHIVO, Portugal – Londres.
Érico Grossi
Maria T Morais
Rafael Amato
Paulo Proença
Antônio Paiva
Estúdio Guayabo
Mr. Wolf
Froiid
Juliana Flores
Rita Lages
Luiz R. Cerqueira
(Artmosphere Fine Art)
Studio Lukas Cravo
Atelier Baumecker
Sérgio Arruda
Luiza Palhares
Lugares do Invisível
— Lucas Morais e Júlia Lage
Rachel Cecília de Oliveira