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Clarice G Lacerda

Longo Prazo

30/6   —   27/7/2021
texto acessívelem Libras

A exposição Longo Prazo, de Clarice G Lacerda, abre poeticamente o Ciclo de Mostras BDMG Cultural 2021. 

Um ciclo que nasceu com a seleção pública de projetos em 2020 e se apresenta em 2021 ainda em meio ao tempo estendido, difícil e improvável da pandemia que nos toma desde o ano passado. 

Clarice compõe o grupo de artistas que se apresenta este ano de forma presencial, com a Galeria podendo ou não ser visitada a partir das normas sanitárias vigentes, e sempre virtual, com a disponibilização de uma plataforma digital especialmente concebida para o ciclo. Além da artista que inaugura a série, teremos a dupla Affonso Uchôa e Desali, de Contagem; a dupla Lucimélia Romão e Jessica Lemos, de São João Del Rei; e Marc Davi, de Belo Horizonte. 

O trabalho de Clarice traz imagens e objetos das fraturas e da decomposição do mundo que cotidianamente nos cerca. Sempre por meio de composições poéticas, a mostra nos leva a passear ao mesmo tempo pela delicadeza, pelos fins, pelos recomeços, pelas arestas, pelos cacos. E talvez não haja forma melhor de adentrarmos este ciclo e nos permitirmos refletir sobre os desafios e possibilidades desse mundo pandêmico e também do mundo pós-pandêmico que construiremos coletivamente.

O BDMG Cultural segue, neste momento, no compromisso de contribuir para a reflexão acerca do nosso tempo, de estabelecer diálogos de toda ordem com a nossa imaginação, com o devir e com a arte e a cultura.

Bem vindes ao ciclo 2021!

BDMG Cultural
texto acessívelem Libras

Pequeníssimo conto – ou fragmentos de um mundo que não precisa se restituir

Como começar senão com a imprecisão da origem? Talvez tudo tenha começado no dia em que ela desenhava em um caderno e, de repente, deu com a tinta que transbordava para a página seguinte. Nesse momento, sentiu que o desenho encontrado era mais verdadeiro do que o pretendido. Seria esse o evento inaugural? Ou foi o copo que caiu na cozinha, riscando num caco a impressão do instante?

Conhecendo ou não a origem, fica acometida disso que ela não sabe se é enfermidade ou crença. A cidade se desenha para ela como um emaranhado de mundos. Mundo-este, mundo-outro. Algo tão simples quanto estar caminhando pela rua e encontrar um pequeno vislumbre: parede, casca, ferrugem, meio-fio. Um arame retorcido, um caco de vidro, os olhos de outra mulher. Letras indecifráveis de uma incompleta mensagem. De onde vêm estes recados do mundo? A cidade brinca em seu vestido, revoa ventos, encanta o corpo. O mundo é o seu caderno de sombras, um quebra-cabeça inventado e misterioso, a revelação do imensamente simples, do residual, sagrado para o qual ela se curva movendo as mãos em direção ao solo. Eu tenho fé naquilo que eu não sei. Um copo se parte, o fogo toca o tecido, a árvore respira.

Ela dança então nas linhas dos mapas, das páginas, em cidades nuas. Corta a pele da paisagem, e inventa uma clareira na escuridão. Risca o branco com tinta negra e perfura fundo da terra, onde germina o alimento vivo e a decomposição. Nela, tudo se move. Todo gesto gesta uma oferenda. Ela vê o que a paisagem não mostra, e cata o mundo inteiro numa lasca encontrada no chão.

O tempo não é coisa só de cair, despedaçar, destruir.
Ele dança na água.
E, com o tempo, evapora.

Carolina Junqueira dos Santos
Daniel Ribeiro Duarte

outono de 2021

Relógios de Netuno
2016 – em processo

Relógio: um copo completamente cheio de água é tampado por um outro copo, idêntico, cheio de ar, em meados de 2016. Lentamente a água evapora e deixa apenas a névoa do tempo sobre a superfície de vidro. Ao escrever o projeto de “Longo Prazo”, um novo relógio é criado no final de 2020.


4 Copos americanos, água, ar, prateleira de ferro e papéis.
30 x 21 x 21 cm
Espadas
2017 – 2021

Corte sobre papel.                                                 
96 x 33 cm
luzia
2018

da série encontrados.
Pintura de autor desconhecido encontrada fixada de modo pendente em poste em via pública.
video 2’11
Códica #1, #2, #3 e #4
2016 – 2021

Fotografia, impressão com pigmento mineral.
50 x 60 cm cada
S/t
2017

da série encontrados.
Espuma encontrada em via pública, pregos.
35 x 38 cm
rim-pulmão 2018

Galhada de árvores secas agrupadas com arame encontrada em via pública; compressa cirúrgica desgastada pelo uso. Inversão do sentido vertical a cada mudança do ciclo lunar – cheia, minguante, nova e crescente.
80 x 80 x 180 cm
Oxumaré
2017

da série encontrados.
Enlaçamento de dois arames enferrujados pela exposição às intempéries, encontrado em via pública.
0,3 x 120 cm
Xangô
2016

Pano de prato usado em altar de oferendas com queimadura acidental.
42 x 60 cm
Unidos
2018

da série encontrados.
Insulfilm de vidro de automóvel quebrado com adesivo, objeto encontrado em via pública.
55 x 45 cm
O VIVO
2018

da série encontrados.
Placa metálica quebrada com inscrição encontrada em via pública, elástico e percevejos pintados.
3 x 1 x 30 cm
Mani oca #2
2016 – em processo

Tiras de cascas de mandiocas secas, em contínuo processo de decomposição.
Aprox. 12 cm x 0,5 cm cada
Mani oca #1
2016 – em processo

Tiras de cascas de mandiocas secas, em contínuo processo de decomposição.
Aprox. 12 x 5 cm cada
Perfilar
2017 – em processo

Conjunto de arames encapados de plástico usados, moldura e ímãs de neodímio.
80 x 100 cm
Pendentes #1 e #2
2016 – 2018                                     
Pendentes #1
2016 – 2018

Montagem de prateleira com elásticos de látex, arames revestidos de plásticos e alfinetes.
45 x 9 x 2 cm
Pendentes #2
2016 – 2018

Montagem de prateleira com elásticos de látex, objetos encontrados em vias públicas, tira de casca de abacate, osso de galinha, linha de costura, canudo de plástico e alfinetes.
75 x 9 x 2 cm
Instantes-já
2016 – em processo

Copos de vidros quebrados em uso – 14 objetos até o momento; duas prateleiras de madeira.
160 x 20 x 4 cm cada
As horas do dia
2020

Série de 4 frotagens com lápis dermatográfico sobre papel flopost. Imagens frotadas ao longo da montagem do quebra cabeça de 2.000 peças produzido com a reprodução da obra “As horas do dia” (1889), série de litografias de Alfons Mucha.
66 x 96 cm cada
Cadernos, livros #1 e #2
2015 – 2021

Livros de artista editados a partir da digitalização de cadernos de artista.
16 x 22 cm / 19 x 25 cm
Buraco negro
2016

Tríptico de colagens de vinil adesivo sobre papel mata borrão.
32 x 121 cm

Clarice G Lacerda
Belo Horizonte, 1986

Iniciou os estudos em Artes Visuais em 1999, quando frequentou o ateliê de Mônica Sartori. Concluiu o bacharelado em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da UFMG em 2012, onde atuou como professora substituta na habilitação em Artes Gráficas em 2019. É artista pesquisadora do escotoma – grupo de estudos das imagens-passagens (EBA/UFMG), que fundou e coordena em parceria com o Prof. Rodrigo Borges desde 2018. Participou de propostas artísticas diversas como o perfura – ateliê de performance (Galeria GTO do Sesc Palladium, 2107), LAPI – Laboratório Aberto em Palavra e Imagem (Galeria do BDMG Cultural, 2017) e Ateliê Midiológico (Teatro Espanca!, 2015); além de mostras e exposições coletivas como a Mostra Residências Artísticas – Atelier Aberto (Centro Cultural UFMG, 2019), SUSPENSA/SUSPENSOS (Galeria da COPASA, 2009) e MIP2 – Segunda Manifestação Internacional de Performance (Espaço 104, 2009). Sua trajetória contempla ainda diversos projetos em artes gráficas e editoriais desenvolvidos em parcerias com artistas como Cinthia Marcelle, Mabe Bethônico, Marcelino Peixoto e Luis Arnaldo, Pablo Lobato, Paula Huven, Camila Otto e André Hauck, Janaina Rodrigues e Hortência Abreu.

Logo Ciclo de Mostras
  • BDMG Cultural
  • Presidente

    Gabriela Moulin

  • Diretora Financeira

    Clarissa Perna

  • Coordenador Artes Visuais

    Érico Grossi

  • Coordenadora Acervo

    Larissa D'arc

  • Design

    Rafael Amato

  • Comunicação

    Paulo Proença

  • Identidade Visual

    Rafael Amato

  • Webdesign

    Estúdio Guayabo

  • Desenvolvimento Web

    João Füzessy

  • Vídeo

    Lugares do Invisível – Lucas Morais e Júlia Lage

  • Fotografia

    Miguel Aun

  • Texto Curatorial

    Carolina Junqueira dos Santos e Daniel Ribeiro Duarte

 

Longo Prazo 2015 – 2021

Esta exposição é um exercício de montagem, provisório como tudo o que vive. Mostrar é uma chance de partilhar, em diferentes camadas, as alegrias e os desassossegos inerentes ao gesto criativo. Para isso, estar junto é de valor inestimável, pois nada existe só.

Pela abertura constante ao diálogo, agradeço a Rodrigo Borges, quem conduziu de forma rigorosa e igualmente afetuosa a interlocução artística e curatorial pertinente à exposição. Obrigada por me indicar que havia chegado a hora de me apresentar no singular, e garantir que nesse processo eu estivesse tão bem acompanhada.

A expografia, experiência vertiginosa de espacializar as obras, foi conduzida pelas habilidosas mãos de Ivie Zapellini. Agradeço a ela pela troca pautada no acolhimento, sensibilidade materializada no assertivo trabalho com as três dimensões. Flávio Durval e John Brito foram parceiros valiosos na execução dos suportes – que em boa parte também são obras – aos dois o meu muito obrigada pela disponibilidade veloz e resolutiva.

Para que a palavra pudesse estar ao lado das obras, de modo que texto e imagem caminhassem juntos e em pé de igualdade, agradeço a Carolina Junqueira dos Santos e Daniel Ribeiro Duarte. A escrita a quatro mãos e a amorosa abertura ao encontro pode aqui afirmar e multiplicar as potências simultâneas da voz e da escuta.

Sara Lana foi a responsável pela finalização do vídeo que integra a exposição, sou constantemente grata a ela pelo apoio em afirmar o desejo como via em construção. 

As molduras foram feitas pelo Ateliê Baumecker, e as impressões fine art pela Artmosphere, parceiros com quem pude trabalhar e aprender bastante, agradeço pessoalmente a Hugo Baumecker e Luiz Rodrigo Cerqueira por essa oportunidade.

Agradeço ainda a toda a equipe do BDMG Cultural, à comissão de seleção do Ciclo de Mostras de 2021 e a todos os profissionais envolvidos pela valiosa chance de apresentação e difusão de meu trabalho.

Como nessa vida eu não ando só, registro aqui minha gratidão aos fraternos amores que felizmente tenho ao meu lado e que contribuíram, cada um ao seu modo, para que essa exposição pudesse nascer: Baleia, Bruno Rios, Carolina Fenati, Clarice Panadés, Cinthia Marcelle, Diego Lacerda, Julia Baumfeld, Letícia Araújo, Luísa Rabello, Marina RB, Nina Aragón, Pablo Lobato, Paula Huven, Ricardo Burgarelli e Rodrigo Caixeta.

Clarice G Lacerda

 

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