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Lucimélia Romão e Jéssica Lemos

E eu não sou uma mulher?

Mostras BDMG Cultural-8 5/8   —   5/9/2021
texto acessívelem Libras

O Ciclo de Mostras BDMG Cultural 2021 nasceu com a seleção pública de projetos em 2020 e se apresenta em 2021 ainda em meio ao tempo estendido, difícil e improvável da pandemia que nos toma desde o ano passado.

Iniciamos com a mostra “Longo Prazo” de Clarice G. Lacerda e chegamos agora à exposição “E eu não sou uma mulher?” da dupla de artistas Lucimélia Romão e Jessica Lemos.

Esta é uma mostra linda, comovente e necessária, sem temer o uso dos adjetivos. Os trabalhos fotográficos das artistas Lucimélia e Jessica tratam das relações políticas e sociais na vida de mulheres negras em diáspora. O colorismo, a força de trabalho da mulher negra, o racismo e o sexismo são temas estruturantes de suas obras e nos chamam para os meandros, dores e violência do nosso racismo estrutural e histórico.

A frase “E eu não sou uma mulher?” inspira a construção do conjunto de trabalhos. Proferida pela ativista norte americana Soujourner Truth durante uma convenção sobre os direitos das mulheres nos Estados Unidos, em 1851, as palavras ainda precisam ser ditas em tom de indignação quase dois séculos depois.

O lugar da mulher negra brasileira na contemporaneidade é um tema urgente. Em 2021, dois meses antes da abertura desta mostra a jovem negra Kathlen Romeu, de 24 anos, foi morta no Rio de Janeiro. Em 2020, João Alberto Silveira Freitas, foi morto em Porto Alegre. Para dizer apenas de dois casos emblemáticos de pessoas negras sistematicamente invisibilizadas, excluídas e assassinadas.

Que a arte possa trazer cada vez mais à tona nossa história diária e também nosso passado e possam nos levar a um caminho tão necessário de reconciliação do Brasil consigo mesmo.

“E eu não sou uma mulher?”

BDMG Cultural
texto acessívelem Libras

Margens são veias de um sistema, e pulsam. Nelas circulam sangue. Quando se movem, os corpos ditos marginais movem as margens do sistema, evidenciando o provisório de toda e qualquer centralidade.

(José Fernando Azevedo)

As margens pulsam na pele cor-po estampada em cada uma das obras que compõem a exposição E eu não sou uma mulher?, de Lucimélia Romão e Jessica Lemos. Ambas são – como Sojourner Truth, cuja pergunta emblemática dá nome a essa série de trabalhos fotográficos e ecoa em tantas outras existências – encruzilhadas de duas avenidas identitárias: mulher e negra.

É desta condição que as artistas vão abordar o projeto de eugenia instaurado no Brasil no início do século XX (O que pode resultar do casamento entre o branco e o preto), para tangenciar aspectos latentes do racismo brasileiro, dando a ver questões como o colorismo (Qual a cor da sua pele?), a força de trabalho da mulher negra (Mulher de pau) e o seu apagamento na história da arte (Para estancar o sangue). Nesse sentido, cada obra vai visitar, como afirmam Lucimélia e Jessica, “a imagem, história, dores e resistências de mulheres negras”, para repensá-las esteticamente, de modo a vislumbrar outras narrativas desejantes, outros possíveis para o feminino da negrura.

Trazendo a linguagem da performance, a exposição vai além da contemplação. Ela produz experiência e pede escuta. A pergunta (e eu não sou uma mulher?) ecoa nas colheres de pau, que tanto apontam para a precarização do trabalho da mulher negra, quanto para a sua invisibilidade. Ecoa nas tonalidades pele estigma que produzem diferenças e nos espelhos que nos olham de volta. Mas também reverbera a atitude da mulher que “teve força o bastante para virar o mundo de ponta-cabeça sozinha” e assumir-se protagonista da própria história. Desse modo, e aqui trago para conversar comigo o pensamento da crítica Soraya Martins Patrocínio, as performers partem de uma poética feita de “pele, gestos, fala, silêncios, locais de falha e, principalmente de vida”, para criar, num gesto de fabulação, “uma arte de bordar restos, vestígios, resíduos”. Assim, elas suturam fragmentos de memórias e histórias para produzir infinitudes prenhes de futuro.

Nina Caetano
Mulher de Pau lII Fotoperfomance                         
Mulher de Pau lI Fotoperfomance                         
Mulher de Pau I
Fotoperfomance                         
E eu não sou uma mulher? Fotoperfomance                         
Qual a cor da sua pele? Instalação                         
A cinza que foi produzida I, II e III Tríptico
Impressão digital sobre tecido

Lucimélia Romão é artista visual e performer. Natural de Jacareí, interior de São Paulo. Graduada em Teatro pela Universidade Federal de São João Del Rei-MG e atriz formada pelo Curso Técnico em Artes Dramáticas da Escola Municipal de Artes Maestro Fêgo, Camargo-SP. Atualmente, pesquisa artes e performances negras. É cofundadora da Cia Mineira de Teatro, onde trabalha como atriz e dramaturga. Criadora da performance MIL LITROS DE PRETO: A MARÉ ESTÁ CHEIA, que fez parte da 9ª Edição da Mostra 3M DE ARTE, em São Paulo. Foi artista premiada no FESTU-Festival de Teatro Universitário do Rio de Janeiro, em 2018, e no 3ª Prêmio Leda Maria Martins de Artes Cênicas Negras de Belo Horizonte-MG, em 2019. Ao longo de sua trajetória artística, desenvolve trabalhos que repensam o lugar do negro na sociedade, pontuando as diversas formas de extermínio que o Estado Brasileiro vem direcionado a população afrodiaspórica.

 

Jessica Lemos é fotógrafa, performer e artista visual. Natural de Cândido Sales, sertão da Bahia. Mestre em Artes pela Universidade Federal de São João Del Rei e graduada em Comunicação pela Universidade Federal da Bahia. Atualmente, desenvolve pesquisas e trabalhos autorais a partir das relações entre performance e fotografia. Em 2019, realizou a exposição individual Olhares da Diáspora – Uma Ocupação Fotográfica, utilizando a técnica de lambe-lambe em grande formato para intervenção urbana com suas fotografias, na cidade de São João del Rei-MG. No mesmo ano foi selecionada para a Residência Artística do Fórum de Fotoperformance, em Belo Horizonte-MG. Foi artista premiada no X Salão de Fotografias do Mar (2016), em Salvador-BA. Em 2016, produziu e lançou seu livro de artista Mocamba, uma narrativa sobre a potência do feminino em quilombos da Bahia. Seu trabalho fala principalmente sobre as relações políticas e sociais na vida de mulheres negras a partir da afro diáspora.

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  • FOTOGRAFIA

    Miguel Aun

  • TEXTO CURATORIAL

    Nina Caetano

A exposição “E eu não sou uma mulher?” foi selecionada no edital de concorrência pública divulgado em novembro de 2020. No Ciclo de Mostras BDMG Cultural 2021, que começou com exposição da artista visual Clarice G Lacerda, ainda vão passar por exposições, na Galeria de Arte e em plataforma virtual, a dupla de artistas Affonso Uchoa e Desali e o artista Marc Davi.

 

Visite aqui outras exposições virtuais do Ciclo de Mostras BDMG Cultural.

 

 

Para informações sobre venda das obras, entre em contato:

Lucimélia Romão
(31) 99195-2126
lucimelia.romao@gmail.com

Jessica Lemos
(71) 99316-8327
jessicalemos.contato@gmail.com

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