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Affonso Uchôa
Desali

Sangue de Bairro

Mostras BDMG Cultural-8 18/11   —   23/01/2021
texto acessívelem Libras

A exposição Sangue de Bairro traz a série fotográfica de Affonso Uchôa e Desali e encerra o Ciclo de Mostras BDMG Cultural 2021.

Um ciclo que nasceu com a seleção pública de projetos em 2020 e se apresenta em 2021 ainda em meio ao tempo estendido, difícil e improvável da pandemia que nos toma desde o ano passado.

Sangue de Bairro é uma mostra contundente e intimista ao mesmo tempo, revelando o olhar dos artistas para o Bairro Nacional, território periférico onde eles cresceram e moram em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. Retratos e a captura de momentos do cotidiano do bairro compõem uma mirada única para o universo periférico, a violência e o êxtase da vida diária.

A dupla Uchôa e Desali compõe o grupo de artistas que se apresentou este ano de forma presencial, com a Galeria podendo ou não ser visitada a partir das normas sanitárias vigentes, e sempre virtual, com a disponibilização de uma plataforma digital especialmente concebida para o ciclo.

O BDMG Cultural segue, neste momento, no compromisso de contribuir para a reflexão acerca do nosso tempo, de estabelecer diálogos de toda ordem com a nossa imaginação, com o devir e com a arte e a cultura.

BDMG Cultural
texto acessívelem Libras

Sangue de Bairro, Puro Sangue

Dá pra pensar essas fotografias “Sangue de Bairro”, do Affonso Uchôa e do Desali, do ponto de vista do cachorro de rua, aquele mesmo que olha, com apetite de festa, a moça numa das imagens do conjunto, bunda pra nós, em frente à máquina de música.

O cachorro de rua, dentro de casa, continua na rua, é puro bairro: nas fotos os pixos pulam pro meio das casas, com recados, pequenos diários nas paredes dos cômodos, anotações, tags internas que fazem par com os desenhos de vergalhões compondo pintura no céu, as sombras, as marcas do concreto no sol de rachar, o coração e a planta colados num muro de outra fotografia, tão apaixonados como um tiro de pó compartilhado em cima do celular. O cachorro olha sem espanto o mundo que quer viver esse amor furioso, tem arma em cima da cama que ele olha sem saber o que é. Pra se viver tem que ter uma vontade de tiro que ele tem, só cai se enxotado. E se enxotado, não sai. Ele é uma permanência. Uma assinatura. O cachorro de rua é a única coisa que a gente tem, é uma memória embaixo da pele, o cachorro de rua é uma urgência que vai nas fotos, essa pouca parada da pessoa pra olhar a objetiva e dizer que a tatoo sou eu, o dedo esticado em arminha, a mão na cara sou eu, o riso largo também, a bunda pra objetiva é meu apetite, porque a gente do Nacional, esse bairro de Contagem em Minas Gerais, que aparece aí, não tem fome como o noticiário planta, é povo do apetite, você já reparou que, enquanto der comida, o cachorro de rua come? Isso não é fome. É vontade de esplendor (palavra, aliás, que os artistas usam pra descrever a atmosfera do trabalho).

O cachorro de rua não tem partido político, nem teoria estética, não tem pudorzinho de olhar com pena pro sujeito que usa crack, aliás, a moça da máquina é trans, cis, é puta, evangélica? Pro cachorro tanto faz, ele não mexe com gratidão, resiliência, empoderamento, palavra de ordem. Ele está. Ou você está dentro do lugar ou é mentira. O cachorro de rua que aparece no bar nunca foi e nunca é de fora do mundo. Ele entra na casa de porta aberta e vê a dona pelada e os colchões empilhados, o rango arrumado rápido, o cachimbo, alguém que saiu do banho, um resto de pinga, tudo posto em altar (outro termo dos artistas pra identificar várias imagens). A gente pensa que o altar do ritual é um lugar muito arrumado, com uns objetos dispostos em duplas, umas paralelas, uma geometria de reta. Às vezes tem disso aí sim. Mas o ritual é também um desacerto porque só existe se alguém deixa uma pegada ali, todo rito é resto, como os tocos de vela de altar que sobram num templo ou o fogão imundo e a marca do bafo do cachorro de rua que fica no vermelhão do buteco onde se deitou. Tem uma outra ordem esse altar com roupas jogadas num canto nas fotografias, é uma organização mais cachorra do rito. A gente vê uma bíblia aberta com uma carteira de trabalho em cima (a vida sendo rescindida sempre e sempre voltando pra casa, como o cachorro de rua). Perto da carteira tem uma foto puxando a vista pra imagem dentro da imagem, pra que a gente perambule por lá como o cachorro, em estado de esplendor ignorante, estado de rito, tudo é ritual, tudo é marca desse apetite.

O cachorro de rua, esse famoso bicho não pet, sempre pertenceu ao mundo, a esse mundo de Contagem, se enxotado, permanece, repito, se morto, fica. É uma insistência, um estado, não tem pena ou horror, é uma coisa que atravessa. A moça da fotografia que o bicho olha lá em cima neste texto é a Sandra, chamada também de Sandrão no bairro. O “ão” do aumentativo é um som único da nossa língua, é um esplendor, tem de falar com a boca cheia. Sempre dá a impressão de que o “ão” é um som vermelho como o Nacional, assim mesmo, passional como o cachorro de rua, puro sangue.

Marta Neves
Fotografia Digital      
80 x 53,3 cm         
2008-2021
Fotografia Digital
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia Digital
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia 35mm
53,3 x 80cm
2008-2021
Fotografia Digital
26,5 x 40cm
2008-2021
Fotografia Digital
26,5 x 40cm
2008-2021
Fotografia Digital
26,5 x 40cm
2008-2021
Fotografia Digital
26,5 x 40cm
2008-2021
Fotografia Digital
26,5 x 40cm
2008-2021
Fotografia Digital
26,5 x 40cm
2008-2021
Fotografia Digital
26,5 x 40cm
2008-2021
Fotografia Digital
26,5 x 40cm
2008-2021
Fotografia Digital
26,5 x 40cm
2008-2021
Fotografia Digital
26,5 x 40cm
2008-2021
Fotografia Digital
26,5 x 40cm
2008-2021
Fotografia Digital
26,5 x 40cm
2008-2021
Fotografia Digital
26,5 x 40cm
2008-2021
Fotografia Digital
26,5 x 40cm
2008-2021
Fotografia Digital
26,5 x 40cm
2008-2021
Fotografia Digital
26,5 x 40cm
2008-2021
Fotografia Digital
40 x 26,5cm
2008-2021
Fotografia Digital
26,5 x 40cm
2008-2021
Fotografia Digital
40 x 26,5cm
2008-2021
Fotografia Digital
26,5 x 40cm
2008-2021
Fotografia Digital
26,5 x 40cm
2008-2021
Fotografia Digital
26,5 x 40cm
2008-2021
Fotografia 120mm
53,3 x 80cm
2008-2021

AFFONSO UCHÔA
1984, São Paulo – Brasil
Vive e trabalha em Contagem – Brasil

Affonso Uchôa é cineasta e fotógrafo. É diretor dos filmes MULHER À TARDE (2010), A VIZINHANÇA DO TIGRE (2014) e SETE ANOS EM MAIO (2019), e também codiretor do filme ARÁBIA (2017). Seus filmes foram exibidos em diversos festivais ao redor do mundo, como os Festivais de Roterdã (Holanda), Viennale (Áustria), Festival de Toronto (Canadá), Festival de Brasília (Brasil), Mostra de Tiradentes (Brasil) e Festival de Mar del Plata (Argentina), além de importantes instituições como a Cinemateca Francesa (França), Arsenal (Alemanha) e o Anthology Film Archive (EUA). Em fotografia desenvolveu, junto ao artista visual Desali, os trabalhos IZIDORA, PRESENTE (Exposto na galeria Mari’Stella Tristão – Palácio das Artes, Belo Horizonte, 2016) e SANGUE DE BAIRRO (Exposto na galeria do BDMG Cultural, Belo Horizonte, 2021).

 

 

DESALI
1983, Belo Horizonte – Brasil
Vive e trabalha em Contagem – Brasil

Desali é formado em Artes Plásticas pela Escola Guignard (UEMG), Participou das exposições: “Enciclopédia Negra” na  Pinacoteca de São Paulo; exposição “Carolina Maria de Jesus: Um Brasil para os brasileiros”, no Instituto Moreira Salles;  “Sertão”, Panorama 36 no MAM, Bolsa Pampulha no MAP e 32 edição do Salão Arte Pará, já fez parte de residências, exposições, coletivos e particulares no Brasil e no exterior, possui obras adquiridas pelo Centro Cultural São Paulo (CCSP), no acervo “Arte da Cidade”, no acervo da Museu de Arte da Pampulha (MAP) e no acervo da Pinacoteca de São Paulo. Criador do Coletivo Piolho Nababo, há dez anos em Belo Horizonte, viaja por múltiplas linguagens, incluindo grafite, fotografia, vídeo e intervenção urbana, promovendo o contato entre a margem e o centro, questionando as instituições artísticas tradicionais e seu colonialismo, contaminando esses espaços com as ruas.

Logo Ciclo de Mostras
  • BDMG Cultural
  • BDMG Cultural

    PRESIDENTE

    Gabriela Moulin

  • DIRETORA FINANCEIRA

    Larissa D'arc

  • COORDENADOR ARTES VISUAIS

    Érico Grossi

  • COORDENADORA ACERVO

    Paula Lobato

  • DESIGN

    Rafael Amato

  • COMUNICAÇÃO

    Paulo Proença

  • IDENTIDADE VISUAL

    Rafael Amato

  • WEBDESIGN

    Estúdio Guayabo

  • TEASER

    Lugares do Invisível
    Lucas Morais e Júlia Lage

  • FOTÓGRAFOS

    Affonso Uchôa
    Desali

  • TRATAMENTO DAS IMAGENS

    Felipe Chimicatti

  • TRATAMENTO ADICIONAL E IMPRESSÃO

    Rodrigo Cerqueira de Sousa
    Artmosphere Fine Art

MOLDURAS

Van Gogh Molduras

APOIO À EXPOSIÇÃO

AM Galeria

APOIO À PRODUÇÃO DA SÉRIE

Rafael do Bronx
Wederson Neguinho
Maurício Mixone

INSTALAÇÃO SONORA “RÁDIO NACIONAL”

Concepção: Affonso Uchoa, Warley Desali, Francisco Cesar e Lucas Morais
Edição e montagem: Francisco Cesar e Lucas Morais
Assistência técnica: Luiz Castro, Maurício Mixone e Rafael do Bronx

VÍDEO “AGRAVO”

Direção: Affonso Uchôa
Montagem: Luísa Lanna e Wesley Figueiredo
Fotografia: Lucas Barbi e Rodrigo Beetz
Som direto: Pedro Durães e Marcela Santos Direção de Arte: Karine Assis e Camila Magalhães
Produção: Camila Bahia e Jacson Dias
Assistência: Vinícius Rezende e Desali

 

 

A exposição “Sangue de Bairro”, de Affonso Uchôa e Desali, integra o Ciclo de Mostras BDMG Cultural 2021, que já recebeu, na Galeria de Arte e em plataforma virtual, exposições de Clarice G Lacerda, da dupla Lucimélia Romão e Jessica Lemos e de Marc Davi.

Visite aqui outras exposições virtuais do Ciclo de Mostras BDMG Cultural.

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