PEDRO DAVID MAR DE MORRO

MOSTRAS BDMG CULTURAL CICLO 2022
— 15 JUN A 24 JUL 2022

MAR DE
MORRO

 

POR PEDRO DAVID

Nos deslocamentos diários pelo bairro em constante construção, registro marcas deixadas por inúmeros montes de areia, encostados por pedreiros às paredes em processo. À medida em que avançam suas tarefas construtivas, entre receber o material, guardá-lo para o momento oportuno, e retirá-lo, os vizinhos desenham os morros de Minas em seus muros.

Em outra etapa de suas obras, não é raro escavarem seus lotes, acidentados por natureza, para criarem planos plausíveis à ocupação.

As retro-escavadeiras, instrumentos comuns entre os construtores locais e as gigantescas minas de ferro, também vizinhas, deixam no solo as marcas de suas mordidas. Expõe em paredes, que surgem de seu serviço, as entranhas da terra. Mostra-nos o material cru, bruto fruto da ganância universal, que nos expõe também a frequentes golpes, e é retirado, em escala industrial, logo ali, atrás do morro, do mesmo solo.

Estamos no quadrilátero ferrífero, região de enorme produção de minério de ferro bruto, intensamente urbanizada. Aqui, lote vago vira mina, a olhos vistos.

Penso em Drummond, no Pico do Cauê, e no Pico de Itabirito, e em tantos morros que somem da paisagem para que seja mantida nossa sina colonialista de fonte de recursos primários à metrópole, hoje, ocidente.

“Olhe bem as montanhas…” Estampou Manfredo de Souza Neto em uma seu adesivo de 1974. Drummond o homenageou, em crônica, no ano seguinte: “Porque elas estão acabando.”.

“E agora, José?” Estamos em 2022, e as montanhas continuam a desaparecer. Em seu lugar, a forma negativa, profundas crateras, e as inorgânicas escadas das infames barragens de rejeitos.

Para designar o sofrimento emocional causado pela destruição ambiental em nosso entorno, temos termo específico. Solastalgia, descrito pelo filósofo Glenn Albrecth, é a combinação entre a palavra latina sōlācium (compensação) com a raiz grega -algia (dor).

Porém, ainda não fomos capazes de cunhar limites para a ganância cega que continua a nos escavar.

Esperaremos o final da quarta estrofe, para clamar: “Minas não há mais, José, e agora?”

Salvemos a Serra do Curral.

Maio de 2022

  • Serra do Rola Moça

    da série Mar de Morro

    fotografia analógica
    impressão por jato de tinta sobre papel de algodão
    135x165 cm
    2018/22

  • Mandíbula #27

    da série Terra Vermelha

    fotografia analógica
    impressão por jato de tinta sobre papel revestido de barita
    155x185 cm
    2015/16

  • Serra do Curral

    da série Mar de Morro

    fotografia analógica
    impressão por jato de tinta sobre papel de algodão
    40x50 cm
    2018/22

  • Pico de Itabirito

    da série Mar de Morro

    fotografia analógica
    impressão por jato de tinta sobre papel de algodão
    40x50 cm
    2018/19

  • Pico do Cauê

    da série Mar de Morro

    fotografia analógica
    impressão por jato de tinta sobre papel de algodão
    40x50 cm
    2018/19

  • Mandíbula #20

    da série Terra Vermelha

    fotografia analógica
    impressão por jato de tinta sobre papel revestido de barita
    40x50 cm
    2015/18

  • Desenho de morro

  • lupa no cromo

  • cromos na mesa de luz

  • arrumando negativos

  • expografia

  • expografia

  • cromos na mesa de luz

  • arrumando negativos

  • amostra de minério encontrada
    no campo de trabalho

  • retrato do artista em campo

PEDRO
DAVID

 

Natural de Santos Dumont – MG, Pedro David (1977) é jornalista, formado pela Puc-Minas em 2001. Cursou pós-graduação em artes plásticas e contemporaneidade na Escola Guignard – UEMG, em 2002.

Dedica-se a interpretar relações entre o homem e seu ambiente, seja natural, rural, ou urbano. Busca, através de figuras de linguagem, como a metáfora e a metonímia, aliar estética, e política para criar diversos formatos de fotografias, vídeos, livros e esculturas. Sua atuação parte de ambientes pessoais e traslada-se física e conceitualmente por diversas esferas da vida contemporânea.

Publicou os livros Homem Pedra (Origem, 2020), 360 Square Meters (Blue Sky Books, 2015), Fase Catarse (Autor – 2008), O Jardim (Funceb, 2012), Rota Raiz (Tempo D’Imagem, 2013) e Paisagem Submersa (Cosac Naify, 2008).

Participa de coleções e museus, como: Art Museum of the Americas – OAS – EUA; Bibliotèque Nacionale de France – França; Museu de Arte do Rio – MAR – RJ ; Coleção Joaquim Paiva – MAM-Rio; Musée du Quai Branly – França; MAM – SP; Museu Nacional da República – DF.

A exposição Mar de Morro conta com parceria da galeria Celma Albuquerque, que representa o artista Pedro David em Belo Horizonte.

IMPRESSÃO DAS FOTOGRAFIAS

Luiz R. Cerqueira
(Artmosphere Fine Art)

MOLDURAS

Ateliê Baumecker

MONTAGEM

Sérgio Arruda

FOTOGRAFIA

Luiza Palhares

COORDENADOR ARTES VISUAIS

Érico Grossi

COMISSÃO CICLO DE MOSTRAS 2022

Froiid
Juliana Flores
Rita Lages

COMUNICAÇÃO

Paulo Proença

ESTAGIÁRIO DE COMUNICAÇÃO

Antônio Paiva

DESIGN

Maria T Morais

IDENTIDADE VISUAL

Rafael Amato

WEBDESIGN

Estúdio Guayabo

DESENVOLVIMENTO WEB

Mr. Wolf